Carta à minha filha — A missão não é para você

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Exatamente 25 anos atrás nesta mesma semana eu disse adeus à minha família e ingressei no Centro de Treinamento de Missionários em Provo visando iniciar uma missão para a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Eu estava confiante, mas nervoso. Pronto por fora, mas totalmente assustado por dentro.

Eu tinha meu testemunho do Evangelho de Jesus Cristo, mas estava mais verde que um limão (muito imaturo).

Eu ia para o Brasil – Belo Horizonte, para ser mais exato- mas tive que aguardar, assim como vários outros jovens missionários que iriam para o mesmo país, até que, em algum lugar dos Estados Unidos o meu visto fosse processado.

Eu tinha duas malas, roupas que nunca haviam sido usadas e uma coletânea das Sagradas Escrituras.

O que eu não possuía, e desesperadamente desejava, era uma carta do meu pai. Ele já havia partido três anos antes. Embora meus irmãos preenchessem carinhosamente a sua falta, eu ainda sentia falta de uma conversa final com o homem que me ensinou que  era bom segui-lo, mas melhor ainda era prosseguir no caminho buscando a Ele, com letra maiúscula.

Era o mês de julho de 1990.

Esta semana, 25 anos depois, minha família está dizendo adeus à nossa filha mais velha, Oakli. Ela está ingressando no Centro de Treinamento de Missionários em Provo, Utah visando iniciar uma missão para a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Ela está confiante, mas nervosa. Pronta por fora, mas totalmente assustada por dentro.

Ela tem seu testemunho do Evangelho de Jesus Cristo, embora ela ainda possa crescer um pouco mais, ela está menos verde do que o limão que eu era em 1990.
Ela está no Brasil – Florianópolis, para ser mais exato – Entretanto também teve que aguardar, assim como vários outros jovens missionários que iriam para o mesmo país, até que o seu visto fosse processado em algum lugar dos Estados Unidos.

Ela tem duas malas, roupas que nunca foram usadas e uma nova coletânea das Sagradas Escrituras.

E ela tem uma coisa que ela pode até nem desejar, mas está levando –  uma carta do seu pai.


Olá Kiddo, adivinha só? A missão não é para você.

Sim, porque Deus ama você. Você irá se beneficiar de uma forma que você não irá reconhecer até que essa fase de transição se encerre. Você irá adquirir novas habilidades e aperfeiçoar outras que você já possuía e nós nem imaginávamos que existiam.

Você se tornará mais convicta e receberá em retorno uma fantástica força de Deus. Mas como em qualquer crescimento pessoal, os passos ao longo dessa jornada de conversão, irão ocorrer como um subproduto da servidão a Ele.

Nunca esqueça que o nome escrito ao parte inferior da plaqueta de identificação é mais importante do que o nome que está no topo.

Estou muito feliz com a sua decisão de servir ao Senhor. Não porque eu ficaria desapontado se você não o fizesse, mas porque você ponderou, orou e ouviu.

Então, quando o Espírito a convidou a servi-lo, você respondeu, “Sim.”

O que mais um pai poderia desejar?

Se você houvesse seguido o mesmo padrão de descoberta espiritual e não sentisse que servir ao Senhor seria a sua missão, se houvesse escutado e permanecido em casa, eu ficaria emocionado da mesma forma.

Eu espero que você saiba que a estrada à frente será o caminho mais difícil que você já terá passado. Não importa quantas vezes eu lhe diga, ou quantas vezes tenha ouvido as histórias dos seus primos, tios, líderes da igreja e professores, você simplesmente não conhece as dificuldades que encontrará.

Estranhos irão tornar-se queridos amigos mais rápido do que você pode pronunciar o nome da igreja que você representa.

Eles a convidarão para entrar em suas casas.

Eles irão ouvi-la, orarão com você e compartilharão a pouca comida que tiverem com você.

Então, por estarem abençoados pela mesma fé que você, eles irão pedir a você para não retornar mais.

As lágrimas escorrerão de seus olhos antes que a porta feche atrás de você.

Não lute com isso. Deixe esses sentimentos moldarem você, lhe envolverem e agirem através de você.

É bom ter decepções, mesmo que sejam devastadoras quando aqueles para quem você pregava preferem se distanciar. Entretanto, mesmo quando a visita se encerrar, mesmo quando você não bater mais à porta deles, você  continuará tocando os seus corações.

Ore por eles. Jejue por eles. Nunca, jamais perca a esperança de que um dia, outro missionário como você, irá sentar naquele sofá e testemunhar que a Verdade foi restaurada. É necessária apenas uma pequena faísca para que se acenda o fogo da justiça.

Por falar em orar, ore bastante por seus companheiros. Eles serão diferentes de você, mas não menos maravilhosos.

Alguns serão muito cultos, outros não.

Alguns serão mais crédulos, outros mais resistentes.

Alguns irão pregar com grande poder e autoridade, outros com uma voz doce e humilde.

Desfrute e aprecie todas essas diferenças. Deus dá a todos nós talentos diferentes, e desde que sejam usados para servir a Deus, essas diferenças não terão importancia.

Ame a todos. Sirva a eles sem limites. Coloque o Salvador sempre em primeiro e seu companheiro em segundo. Faça isso e você nunca será esquecida nem mesmo deixada para trás pelos outros.

Seja você mesma. É normal o erro de percepção de que missionários devem ¨acionar um botao¨ e tornarem-se algo que houvesse saído de dentro de um manual.

Você ainda é você mesma.

Você ainda possui a sua própria personalidade, assim como as diversas personalidades que seus amigos tem, Essa é a razão pela qual você se conectará com algumas pessoas e seus amigos se conectarão com outras.

Seja você mesma, mas seja a melhor versão que você pode ser de você mesma sempre que possível.

Seja você mesma, e confie que o Espírito Santo lembrará a eles, de um relacionamento que precede seu estado de cegueira terrena.

Trate cada missionário como se fosse o melhor que você já tenha conhecido. Dê o melhor de si. Fuja das fofocas como se fosse a pior das pragas conhecidas.

Seja obediente – em todas as horas e em todos os lugares. Se essa á a primeira lei do paraíso, também é a primeira lei de uma missão.

Lembre-se da palavra principal: convide, convide e então convide mais e mais.

Não, a missão não é para você. É para aqueles que ainda não realizaram o convênio batismal e para aqueles que seguiram. Ela é para as pessoas que estão esperando em outras missões ao redor do mundo para serem ensinadas por cinco anos a partir de agora pelas pessoas que você nem pregou ainda. Isso não é um milagre?

Não, a missão não é para você. A missão é para o Senhor.

Oakli, eu te amo. Eu apenas desejo que você saiba o quanto. O amor que os pais tem por seus filhos é impossível de descrever porque simplesmente não existem palavras para isso.

Eu não sei. Talvez existam. Deus apenas não nos deu, ainda.

Agora, prossiga! A missão d´Ele lhe aguarda.

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